sábado, 3 de janeiro de 2015

Comédias e Tragédias... e livros à mistura

Ora muito bem, na passada quinta-feira, depois da minha exposição sobre a lambarice que para aqui foi na passagem de ano, descobri que esse dia (01 de Janeiro) é o dia da Lei do Direito de Autor. Eu, que adoro livros e esta área do Direito em particular, sobre a qual se debruçou a minha "besta", acabei por descobrir umas outras coisas "deveras interessantes" enquanto dava umas voltinhas pela net. Resumindo, vou ferir susceptibilidades e ser inundada de "coisinhos maus" por isso.

(Eu sei que este é um post grande, mas por favor, leiam-no até ao fim).

Pelo que já tive oportunidade de dizer, já devem ter notado que não sou "fã" de editoras, tendo em conta a forma que estas estão concebidas actualmente, forma esta que pouco ou nada mudou desde a época que eram meras entidades com privilégios régios de impressão de obras. As editoras são necessárias, não estamos aqui para enganar ninguém, no entanto, a instituição arcaica que hoje subsiste deixa de ter algum sentido quando o autor, finalmente, aprendeu a auto-promover-se.

Seria absurdo dizer que toda a equipa que labora numa editora para que uma obra seja presente ao público, quer através dos meios tradicionais, quer através do digital, não deva ser remunerado pelo seu trabalho, e sempre de acordo com o serviço prestado. Todavia, o mesmo dever-se-ia aplicar ao autor, o qual, na grande maioria das vezes, recebe apenas 10% do preço pago pelos leitores nas livrarias (físicas ou online). Se estivermos a falar de antologias ou colectâneas de contos/noveletas, esses mesmos 10% são divididos por todos os autores. Obviamente que, depois disto, muitos aspirantes nacionais a artista (e não apenas escritores) pensam duas vezes e decidem ter um "emprego de dia", porque escrever não dá para pagar as contas. No entanto, hoje em dia existem mil e um serviços que as substitui e que, se bem escolhidos e trabalhados, dão a possibilidade do autor ser (quase) auto-suficiente.

A publicação online é hoje uma realidade utilizada por muitos. Existem diversas plataformas onde os autores podem disponibilizar as suas obras, de forma gratuita ou onerosa (a preços muitas vezes simbólicos). Desta forma, o autor receberá todo ou quase todo o valor pago pelo leitor (no caso do Smashwords, o autor recebe 85% das vendas realizadas, sendo que é o próprio a decidir o preço de cada obra sua, ficando a plataforma com 15% desse valor, como forma de remuneração pelo alojamento das obras disponibilizadas).

Quanto à capa e à organização/edição do livro, há várias ferramentas gratuitas na internet para o efeito ou, caso seja do interesse do autor, este poderá sempre contratar um profissional que fará o trabalho por um preço que ficará muito aquém do praticado por uma editora. Da mesma forma, o criador intelectual poderá angariar leitores/revisores para ler/rever/corrigir/opinar as suas obras, dependendo dos casos, antes de estas estarem disponíveis, de forma a ter "antecipadamente" uma amostragem do comportamento do público, algo que eu já fiz diversas vezes (este trabalho é quase sempre feito por voluntários, logo, de forma gratuita, apesar de eu conhecer alguns casos em que não é bem assim...). Mesmo no âmbito da obra física, o autor poderá facilmente contratar uma empresa gráfica para proceder à impressão dos exemplares físicos que deseja comercializar nas lojas de rua ou mesmo na rede.

Publicidade? As redes sociais e de divulgação, por si só, são um mundo, e muitas vezes gratuitas. Conheço muitos casos em que os próprios autores oferecem pequenas obras sua ou samples destas, para fazer o seu trabalho chegar ao público de forma mais ágil e subtil. Os leitores irão, com toda a certeza, agradecer e ficar curiosos, com vontade de ler mais obras deste ou daquele autor e, posteriormente, quererão adquirir novas obras mesmo que tenham que pagar (de novo, muitas vezes um preço simbólico) para as ler.

Infelizmente, as edições de autor nem sempre têm grande futuro, especialmente no que toca às versões impressas, uma vez que há aquele "conceito geral" vindo sabe-se lá de onde, de que “se as editoras não quiseram este livro/este autor, é porque ele não tem qualidade (ou rentabilidade)”. Ninguém pergunta ao autor se aceitou ser publicado por esta ou aquela editora e, em caso negativo, porquê. Mas pior do que isso, são situações em que o autor deve trabalhar gratuitamente, sendo que a sua remuneração deverá ser entregue a outros intervenientes. Não sou contra, como disse acima, que as pessoas, independentemente do trabalho realizado ou do cargo ocupado, não devam ser remuneradas em função deste. É óbvio que devem! Mas nunca o deveriam ser em substituição do autor. Ninguém pensa ir a um consultório médico e sair sem pagar. Por que razão, deverá ser diferente no que toca a outros profissionais?! Não vou estar aqui a descrever exaustivamente a situação em causa porque, para além de correr o risco de tornar este post num "romance de uma vida", há quem o já tenha feito de forma exemplar e com ligações para os diversos contraditório existentes, pelo que vos deixo o link para o post do The Spine Collector da Rafaela Ferreira.

Para finalizar, reitero a minha posição: não sou contra editoras, não sou contra bloggers, não sou contra autores, e muito menos contra os direitos que qualquer um destes detenha, independentemente da sua natureza. Sou contra o "engana meninos e papar-lhes o bolo". Mas esta é somente uma a minha opinião.

3 comentários:

  1. Portanto, podemos concluir (as pessoas menos ligadas a essas lides, como eu), que a internet não é só um veículo de piratagem de obras. Quando bem utilizada, pode ser uma boa alternativa à exploração das editoras, quer sejam de literatura ou de música.
    Já tinha lido, algures, que há artistas que não só "nasceram", como construíram uma carreira usando a internet como meio de divulgação e venda das suas obras e, embora não acredite que a piratagem acabe totalmente, se existirem obras online, pagas pelo justo valor decidido pelo autor, muito mais pessoas estão dispostas a pagar. Se tivermos em conta que, por exemplo, de um livro vendido na loja por 25€ o autor apenas recebe 2,5€, não é difícil perceber que por essa quantia, muitos leitores (aqueles que não se importam de ler e-books), não vão regatear o preço.
    Eu confesso que já li livros (dois ou três) em formato PDF, disponíveis gratuitamente na net. Não eram pirateados, estavam num site legal que disponibiliza e-books gratuitos. Mas se tivesse variedade, se houvesse mais oferta, era um potencial cliente. O que me parece é que há pouca oferta em português e tenho a impressão (talvez errada) que aparecem traduções em brasileiro de muito má qualidade.

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  2. Falaste um pouquinho sobre isso num comentário que me deixaste, mas até agora não tive oportunidade de te responder x)
    Concordo com o que dizes, é injusto que recebam tão pouco (como se escrever um livro não desse trabalho...) e isso das edições de autor é demasiado arriscado... Quanto aos e-books, realmente já tinha pensado nesta hipótese para o meu caso, mas sei lá...há ainda muita gente que não gosta de ler um livro em formato digital (nem eu gosto), daí que...

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  3. O Amazon faz isso das "amostragens" porque para qualquer livro digital para o kindle podes ter a sample que é tipo os primeiros 3 capítulos ou qq coisa do género. se gostares compras, se não, amigos à mesma lol

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