Há dias li este
texto num
blog que não o da autora, mas que simplesmente quis divulgá-lo. Não sei porque razão decidiu fazê-lo, já que não deu a sua opinião. Porém, eu vou dar a minha. Leiam a dissertaçãozinha e depois venham ter comigo outra vez...
Para começar, vou resumir a coisa: na sua essência este texto diz-nos que somos jovens à rasca porque somos uns mimados que sempre tivemos tudo na vida oferecido de bandeja e agora, como temos que deixar as mordomias que nos acompanham desde o berço, estamos muito chateados. Primeiro, vou falar de mim. Eu sei que é uma acção no mínimo egocêntrica, mas como sou da nova geração do "é tudo como eu quero", sim, vou falar de mim.
Passei doze anos no ensino obrigatório. No secundário optei por seguir a área do antigo cientifico natural, e terminei 12.º ano com média de 16 valores. Entrei no curso que queria e na Universidade que queria. Neste momento estou a terminar uma licenciatura em Direito e vejo as minhas perspectivas futuras de trabalho bem lá ao longe e vistas por um canudo. E será isso culpa minha? Não me parece... Mas já lá vamos.
Continuando a falar sobre mim, durante esse mesmo ensino obrigatório, nunca tive subsídios das escolas, apesar de muitas vezes a minha mãe estar desempregada e ser o meu pai o único a ganhar. A desculpa era que eu não precisava, apesar de saber que casos de colegas que ambos os pais tinham emprego, eram filhos únicos, e ainda tinha direito a escalão. Apenas quando vim para a Universidade é que passei a ter direito a alguma coisa, apesar de apenas receber a bolsa mínima, porque o salário médio do meu pai dá para três pessoas viverem com dignidade... porque para nas contas apenas entravam os ganhos e nada de despesas. A renda e contas de casa não contam, as deslocações não contas, os livros e as fotocópias não contam. Contam os ordenados, o património imobiliário e as contas no banco. Mais nada.
Quando ainda era adolescente, pedi aos meus pais para me darem algum dinheiro para mim. O máximo que consegui receber e já no secundário eram 5 euros por mês, quando a maioria dos meus colegas tinha 10 euros por semana. Não reclamei. Sabia que o dinheiro não nascia nas árvores, que tinha pouco e que tinha que me contentar com o que tinha. A partir do momento que comecei a receber mesada, as borlas terminaram. Davam-me dinheiro para comer na cantina e lanchar, mas para o resto existia a mesada e ponto final. Se queria uma camisola, tinha que juntar. Se queria um livro, tinha que fazer conta aos 5 euros por mês e esperar quase quatro para o comprar. Se queria um telemóvel novo porque o antigo já mal funcionava, ou saía do meu bolso ou podia esperar uma aparição. Cedo percebi que tinha que poupar o que me davam, assim como teria que poupar o meu dinheirinho quando tivesse um emprego. Aprendi a lição rapidamente e hoje tenho o que preciso e, às vezes, também tenho o que quero.
Nunca pedinchei roupa de marca. Algumas coisas que tenho são da Stradivarius ou da Primark, mas todas elas foram pagas por mim. Sapatos então... Só me dou bem com botas e sapatilhas das feirinhas das terrinhas, e raramente lá encontro um sapato número 35, que é aqui a Night que patrocina com o money. Tenho muitos livros, sou culpada, e confesso que não os comprei a todos, porque uma boa parte dele são prendas de aniversário ou de natal, já que não peço roupas de presente, e sim livros. Não tenho carro nem carta de condução, porque nem dinheiro para a gasolina tenho, quanto mais para o resto. Não trabalho ao mesmo tempo que estudo, pois tenho medo de ficar sem bolsa universitária, visto saber que é uma consequência bem provável pelo meu empreendedorismo.
Não quero viver o resto da vida na casa dos meus mais, ou à custa deles. Quero ser independente e autofinanciar-me. Quero ter a minha casa e a minha família, a qual vou educar como fui educada: por uma avó que viveu durante a ditadura de Salazar e de Caetano, que passou fome para dar de comer ao seu único filho, e que me ensinou os valores e a educação que tenho hoje. Quero ensinar aos meus filhos as letras e os números em casa, e que na época dos pais deles existiam jovens que não abreviavam as palavras e que tal como a mãe gastava o seu tempo livre a ler bons livros. Que a mãe estudava bastante para fazer o curso superior, o qual lhe venderam como um "sonho americano", em vez de ir para a discoteca ou sabe-se mais onde. Que a mãe teve de emigrar porque ninguém queria saber das suas competências ou qualificações.
E teria a mãe dos meus futuros filhos culpa por viver "à rasca", sem ser, necessariamente, uma "jovem rasca"?! Vou ser egocêntrica mais uma vez: NÃO! Ela não teve a culpa. Nem os pais ou avó dela, seu avós e bisavó, que sempre lhe deram o que podiam, e lhe ensinaram que não ia ter tudo o que queria na vida. Que a mãe deles não teve trinta mil telemóveis diferentes, que não vestia modas caras, que não tinha a última tecnologia em iPods ou iPads, porque nunca teve nada disso. Que mãe deles não passou fome, mas soube o que era chegar ao fim do mês e não ter dinheiro para comprar comida. Que a mãe deles viveu num país em ruínas graças às gerações anteriores à dela, que enquanto lhe chamava "jovem rasca" e mimada, elegeram os governantes que venderam o país a quem pagou mais baixo, que esgotaram os recursos, que promoveram a tradição da cunha e do tacho, que tornaram trabalhadores em escravos implementando os falsos recibos verdes e que transformaram a lei laboral numa palhaçada barata, que criou universidades e cursos de m*rda só para venderem licenciaturas e ganharem dinheiro à custa do sonho de muitos em ter uma formação superior e melhor que a dos seus pais.
A quem escreveu a dissertaçãozinha supra, apenas tenho a dizer o seguinte: a senhora nunca soube o que é andar à rasca para pagar as contas tão superficiais como as da luz, do gás, ou da renda de casa, que tem uns filhos por si mesma mimados, e que agora se levanta contra aqueles que nunca tiveram muito e que agora não têm quase nada, que tenta passar a sua própria frustração para a cara dos outros que nem sequer conhece. É uma criatura frustrada, à rasca sim, não de dinheiro, mas sim de valores educacionais. Quem é aqui "rasca" é a senhora, não eu. Posso estar "à rasca" economicamente, todavia tenho uma educação de ouro, e isso minha senhora, não há dinheiro no mundo que pague.