Hoje ao almoço olhei assim de soslaio para a notícia de mais uma reforma na educação. Verdade seja dita, é coisa que este país anda a precisar, e há muito tempo. Lembro-me que no 12.º ano mal olhei para a matéria de Matemática A (quase se pode dizer que não estudei), e na prova nacional tirei 12. Não é nenhuma nota brilhante, mas como eu não precisava daquilo como prova de acesso ao ensino superior, confesso que me borrifei para aquilo.
Um ano volvido, uma amiga minha fez também ela as provas nacionais de fim do secundário, e mostrou-me o enunciado do exame de Português e quase espumei da boca. Se no meu ano a média foi negativa (9,2 valores, se não estou em erro) e tirei 16 na prova, naquele ano o exame foi dado, e desconfio que tirava um 18 ou mais. Fiquei escandalizada com a facilidade que é oferecida nos tempos que correm às pessoas. Não desejo que comecem a chumbar pessoal a torto e a direito, que para isso já temos a universidade e eu, mais concretamente, Direito Fiscal II (que pelo que soube, só cerca de 10% daqueles que foram ao segundo teste passaram... Convém relembrar que a maioria dos inscritos na cadeira nem sequer foi ao segundo teste, logo, a percentagem de aprovações diminui, e muito. Devemos estar uns 300 inscritos. Passaram 13 alunos no total).
Tudo isto lembrou-me um outro assunto que, de tempos a tempos, sempre nos vem à cabeça, quer seja em dissertações com amigos e/ou conhecidos, quer seja porque o tempo lá fora potencia a coisa. Estou a falar da eterna "guerra" entre o ensino público e o privado. Posso ser um pouco tendenciosa no meu discurso em defesa do público, porque sempre estudei em escolas públicas. Mas verdade seja dita, as diferenças estão à vista.
Toda a minha vida tive que ralar para ter notas. Nunca paguei por elas. Alcancei o que tenho hoje unicamente com o fruto do meu empenho e trabalho, e nunca tive professores a porem-me a "mãozinha na cabeça". Tive docentes justos e injusto, mas isso é o prato do dia, e pouco ou nada pude fazer em relação a isso, daí, ainda tive que me esforçar mais. Na maioria dos estabelecimentos de ensino privado os alunos são os queridinhos dos professores porque os pais arrotam ali uma boa quantidade de euros todos os meses, muitos têm notas quase dadas, e as escolas ainda recebem subsídios do Estado para terem campos de ténis e equitação para os meninos.
Para começar, era muito simples: se o ensino é privado ou cooperativo, acabam-se os dinheiros públicos. Ao fim e ao cabo, estamos todos a contribuir para algo que muitos de nós não usufrui. Que aumentem as mensalidades dos meninos riquinhos e, caso os paisinhos não possam pagar, há sempre lugar para mais um numa escola pública, onde não há elites e cada um é presenteado com as notas para a quais trabalhou. Se o ensino público já anda nas lonas porque não há dinheiro, então não tem razão de existir subsídios para o privado. Mas se se fala em passar as riquesinhas dos meninos para a pública, ui, que horror! Porque o público é isto, o público é aquilo... Oh minha gente, deixem-se disso! Não é por alguém frequentar uma escola pública que é tão burro que mal sabe escrever ou manter uma conversa e que não tem educação nenhuma (esta última, que eu saiba, dá-se em casa e não tem nada que ver com a situação económicas das pessoas...).
Ainda, vê-se mais droga nas instituições privadas que na públicas e, por vezes, mais do que se possa imaginar, são os alunos ricos dos colégios que vendem a droga aos miúdos do público. Nas escolas públicas ganham-se mais defesas relativamente ao mundo exterior: és gozado, levas porrada, tens liberdade para dizeres o que te apetece (sempre dentro das regras da boa educação), os docentes tratam-te como um aluno qualquer e não te dão benesses e, por vezes, nem te ligam puto. Queres as coisas, trabalhas para as ter. Nos colégios privados andam contigo ao colo, não podes ter nem sequer um cabelo fora do sítio, mandam na roupa que vestes mesmo quando não há uniforme obrigatório, agrupam-te em turmas consoante as tuas notas (sendo que apenas as notas da melhor turma são apresentadas para efeitos de ranking) e, se tiveres uma falha e começares a ter pouco aproveitamento, expulsam-te de lá porque não preenches o padrão de "ovelha da manada comedora de livros", ou então há sempre a possibilidade de teres opinião própria e isso é coisa de não se admitir.
Daí que eu não entendo a razão de ainda muitos paisinhos acreditarem que o melhor para os filhos é um colégio, especialmente se em regime de internato. O mais provável é nem terem paciência para verem a cara dos miúdos todos os dias, pelo que os mandam "de férias" uma boa temporada para o c* de judas, e só porque é caro, já vale o investimento. Só que ainda ninguém lhes disse que nem tudo o que é caro é bom, isso, ou então comem caviar ao pequeno almoço todos os dias. Conheço muita gente que foi para medicina e nunca pôs um pézinho numa escola privada, daí que não estou a ver grandes diferenças, excepto a componente monetária. Mas cada um sabe de si.
Tal como tudo há escolas e escolas. E sei de escolas privadas que não paparicam os alunos dessa maneira e que também fazem a colecção de chumbos. Mas também sei de uma muito especifica em que pouco ou nada se faz, e nunca ninguém tem media abaixo de 16. Acho que deve depender do curso de saída que se pretende.
ResponderEliminarNo ensino publico também acontece isso. Já vi professores a darem notas a alunos porque eles as pediram. E obviamente, conheço muitos profs que andam a fazer colecção de cromos com tantos chumbos que dão.
É como tudo menina. Há ambas as coisas em todos os lados. Mas concordo que há melhores notas nos privado que nas publicas.
Fiz o secundário, no tempo do saudoso ministro da educação Roberto Carneiro. Lembram-se? Do Governo de Cavaco Silva? Toda a gente reclamou com o aparecimento das Provas Especificas, mas mais tarde viram que fazia todo o sentido.
ResponderEliminarFiz um curso Tecnico-Profissional (no tempo em que as Escolas Secundárias tinham cursos a sério) e quando entrei para a Universidade foi no ano em que começou a reforma do ensino secundário. Quando comecei a ver o estado em que aquelas alminhas chegavam a um curso superior...até metia dó.
Isto tudo para dizer que nos ultimos 15 anos criou-se um facilitismo no secundário, para enganar toda a gente e fazer os alunos passar de ano. MAs quando esses meninos chegam às Universidades, ou pior...ao mercado de trabalho vêm que facilitar não compensa.
Heartless - Eu própria disse que há de tudo nos dois lados, mas é manifesta a palhaçada que existe, sobretudo, no privado.
ResponderEliminarXL - Eu não sou desse tempo XL, mas convenhamos que dessa altura para cá foi só a cair. Nunca ninguém disse uma verdade tão acertada...
Público!
ResponderEliminarli isto, e não concordo contigo xD eu já frequentei uma escola publica e uma escola privada (à qual eu mal pagava porque a minha mãe era lá funcionária). Acho que as privadas têm mais fama que proveito, não vi grande diferença dos profs do meu privado aos profs do meu público. Reparei, contudo, que as minhas notas no publico aumentaram imenso, e acho que foi porque estava habituada a outro método de trabalho que aprendi no privado. É como tudo. Na pública já tive uma professora que deu-me 12, mesmo quando a minha média era superior a 12, porque "não acredito que tires mais que 10 no exame" (e depois tive 15 no exame), e na pública já tive um professor de Psicologia que facilitava imenso. A mim sempre me disseram que, em relação aos professores, nunca senti que havia as tão faladas benesses, quer no público quer no privado, porque era da área de Humanidades, ainda assim duvido que a razão seja essa. Lá porque não queríamos medicina, queríamos direito e as médias não estão baixas.
ResponderEliminarTu sabes que eu também já sofri bullying, e foi na escola privada, e quando pedi ajuda ninguém quis saber. nem os meus colegas, nem os meus professores, por isso nunca vi que uma privada protege-se alguém. e também vi aquelas pancadarias que costumam haver.
Eu sempre disse que quando tiver filhos vou pô-los no público por duas razões: primeiro porque eu acredito que, se nós não acreditarmos no que o estado nos dá, menos razões temos para defender o que é nosso, nacional. segundo, porque o dinheiro lá gasto não vale a pena: a meu ver, privado e publico a merda é a mesma. não vi ninguém a levar ao colo em nenhum dos lados, vi porrada e gente a tratar-se mal dos dois lados, vi professores injustos e justos em ambos, por isso, para mim, a diferença é mesmo dinheiro.
Quanto ao estado subsidiar e aos internatos, já pensaste que os pais podem não estar a mandar os filhos para o cu de judas, mas sim a tirá-los de lá? Bem vês quantas escolas públicas têm fechado. Há cada vez menos escolas, principalmente no interior, e alguns casais preferem pôr os putos a viver à semana numa escola, internados, do que tê-los a ir e vir todos os dias numa fraca rede de transportes. Alguns pais não têm disponibilidade em termos de emprego para levar os putos à escola, estas viagens não são propriamente de 30 minutos ou algo que se pareça. E já conheci putos que estão internados porque os pais têm empregos instáveis, do género, um mês no kuwait, um mês em frança, outro mês em espanha. É dificil ser interno numa escola, ninguém (ou quase ninguém) o é por vontade própria, mas sim porque tem de ser. Não se trata de uma questão de aturar os filhos ou não. E por isso é que o público tem de subsidiar algumas escolas privadas: porque é a única opção que algumas pessoas têm. E há escolas semi-públicas quando é uma escola isolada no meio do nada, mas que acolhe muita gente. Os meus primos frequentaram uma escola privada que era, ao mesmo tempo, pública, porque era a única num espaço de imensos kilómetros.
Acho que tens de ver que há sempre os dois lados da moeda, nada é tão cientifico como se diz. Eu, pela minha experiência, vejo que não foi. Provavelmente há escolas e escolas, e assim eu posso dizer que andei numa privada exigente e que adquiri bons métodos de estudo dela, e depois fui para a pública mais exigente de braga, onde 15.6 era 15 e não 16, e acabei o secundário com média de 160. Quanto à guerra de universidades publicas e privadas, essa também será eterna, mas já a guerra entre publicas o é
btw, e quando a minha mãe foi falar sobre o meu caso de bullying, eles continuaram a não querer saber...
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