sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Jane Eyre, de Charlotte Brontë

Acabei ontem à noite de ler esta obra. Confesso que em alguns momentos pensei que não seria um tipo de leitura que fosse ao encontro das minhas expectativas, mas isso deve-se ao facto de normalmente só ler calhamaços mais para o género da fantasia. Ouvia falar muito bem da literatura clássica inglesa, mas nunca tinha lido nada desse estilo, excepto O Retrato de Dorian Gray (apesar do seu autor, Oscar Wilde, ser irlandês). Mas depois de constatar os preços obscenamente baixos dos livros lançados pela Book.it, de que falo aqui, decidi investir em cultura, não que os outros livros não sejam cultura, mas é diferente.

Charlotte Brontë nasceu em 1816, em Thornton, Yorkshire. Era filha de um pastor irlandês e aos 5 anos ficou orfã de mãe, que morreu de cancro. Ela e os seus cinco irmãos, mais quatro raparigas e um rapaz, ficaram ao cuidado de uma tia, Elizabeth Branwell. Anos mais tarde, as raparigas, excepto Anne, foram mandadas para um colégio interno, ao estilo de Lowood, que a sua personagem Jane Eyre frequentou, mas devido às condições da escola, duas das suas irmãs morreram de tuberculose, o que levou o pai de Charlotte a retirá-la do colégio, assim como a irmã sobrevivente, Emily.

Durante alguns anos, Charlotte foi professora e trabalhou em casa de famílias ricas de Yorkshire. Só em 1846 publicou com as suas irmãs, Emily e Anne, a obra Poems by Currer, Ellis, and Acton Bell. Um ano depois era o momento de Jane Eyre, o seu mais aclamado romance, ver a luz do dia, seguindo-se Shirley (1849) e Villette (1853). Charlotte morreu em 1855, alegadamente de tuberculose, enquanto esperava o seu primeiro filho, que morreu também com ela.

Agora sobre o livro, vou fazer um pequeno resumo e expor a minha opinião sobre o mesmo, e vou tentar não dizer mais do que devia. Ainda assim... Spoilers Alert!

Jane Eyre é escrito na primeira pessoa, sendo um género de biografia contada pela sua personagem principal. Jane fica orfã de pai e mãe muito cedo, tendo que ir viver com a sua tia, Mrs. Reed em Gateshead, onde nunca ninguém a tratou bem, excepto uma das empregadas, Bessie. Já com 10 anos, Jane foi enviada para o colégio de Lowood, uma instituição dirigida por um clérigo fanático, que deixava as cerca de 80 alunas quase morrer de frio e fome, privando-as das coisas mais básicas, enquanto que a sua mulher e filhas viviam vida de rainhas. Jane conseguiu sobreviver a uma grande epidemia, e após esta, as parcas condições do colégio vieram a público, o que fez que a sua administração mudasse, tornando a instituição apropriada para os seus desígnios. Jane tornou-se uma aluna de excelência e depois professora também, mas acabou por deixar Lowood para se tornar preceptora de Adèle, pupila de Mr. Rochester e dono de Thornfield Manor...
...E o resto não digo para ver se vos instigo a lerem a obra ^^

Convém recordar que este não é um livro do nosso tempo, e que algumas coisas nos podem parecer um tanto ou quanto ridículas, mas no séc. XIX muitas coisas eram diferentes dos dias de hoje. Ainda assim, não pode deixar de ser considerado um marco da emancipação feminina. Charlotte Brontë mostra que a mulher pode ser independente e zelar por si própria, mostrando-a ainda detentora de ideias próprias e capaz de trabalhar e sustentar-se, tendo ainda a opção de casar ou não, conforme a sua vontade. Contrariamente, Jane Austin demonstra nas suas obras que para garantir o seu futuro, o que as mulheres devem fazer é arranjar um bom casamento, não sendo talhadas para uma vida de trabalho. Porém, são pessoas diferentes, em contextos de vida diferentes.

Quanto à minha opinião sobre Jane Eyre, considero-o um livro fora do seu tempo, assim como a sua heroína. Para mim Jane é uma heroína que conseguir ultrapassar tantas tragédias e adversidades na vida, sem nunca baixar os braços e lutando sempre por se afirmar, ainda como solitária em muitos momentos, e como uma mulher capaz como qualquer homem da época. Jane encarrega-se do seu próprio destino e não deixa que os outros o decidam por ela. Feia, franzina e sem qualquer tipo de atractivos à primeira vista, Jane conta apenas com a sua inteligência e bom senso e acaba por triunfar sobre tudo e todos que a tentam rastejar e deitar por terra. Esta obra demonstra que, quando as mulheres realmente querem, são capazes de ser tornarem uma força da natureza.

Odiei até aos ossos Mrs. Reed e o filho, John Reed, que maltrataram tanto Jane e nunca com razões justas para tal. Tal como eles, também só me apetecia estorcegar Mr. Brocklehurst, o administrador de Lowood, um verdadeiro moralista vazio e repugnante. Ainda, reprovo a conduta de Blanche Ingram e de sua mãe, ambas senhoras da alta sociedade inglesa, e desprovidas da verdadeira educação e que desprezam toda a gente que lhes está, no seu entender, abaixo.
Em relação às outras personagens, Mr. Edward Rochester não se me mostrou tão apaixonante como eu esperava, mas ainda assim agradável e com as suas virtudes. Adorei Helen Burns. Colega de Jane no colégio e melhor amiga de Jane em Lowood, que se recusa a distratar quem lhe faz mal, preferindo dar a outra face e acolher de um modo passivo as escolhas de deus. Tal como ela, gostei de Miss Temple, professora nessa mesma instituição, que desafiava tudo e todos para bem das suas alunas e da justiça.

Agora só aguardo por ver a última versão em filme de Jane Eyre, que conta com as participações Mia Wasikowska no papel de Jane Eyre e Michael Fassbender como Mr. Edward Rochester. A ver se não me desiludo com a película, o que presentemente parece ser uma constante. É esperar para ver.
Boas leituras ^^

3 comentários:

  1. Recuso-me a ler este post porque quero ver o filme.
    Expliquei-me?

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  2. Eu sou suspeita... li o livro antes de ver o filme (smp tive uma certa paixão pela história da Jane Eyre desde que vi o filme cm o William Hurt) e ADORO-O PROFUNDAMENTE!! Fiz algo que nunca fiz antes: vi andar na rua e a ler ao mesmo tempo, os meus lábios a mexerem enquanto me maravilhava cm a história - resumindo, figura de ursa :P

    Eu gosto da Jane, admito. Tomara muita mulher ser cm ela... mas tnh um crush pelo Mr. Rochester e não consigo explicar... talvez seja por causa daquela cena no quarto dele após o fogo (o 1º fogo, diga-se), ou a cena depois do ataque da Bertha ao Mr. Mason... não sei... não sei... talvez o Michael Fassbender tenha culpa no cartório :P

    Em relação ao filme... depois falamos! Assim que o vires, deixa uma opinião pra ver o que achaste :P

    PS: O Michael Fassbender é simplesmente divinal cm Mr. Rochester... simplesmente maravilhoso :)

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  3. Corina - Podes ler até à parte em vermelho onde diz spoilers alert. O resto é legível, são só coisas sobre a escritora =P

    Nerwen - Também já fiz figura de ursa muitas vezes, não necessariamente pela mesma razão, mas tenho uma ideia de pelo menos uma vez ir na rua a ler um livro, mas não tenho a certeza xD Acho que a teu crush tem definitivamente alguma coisa a ver cm o Michael Fassbender... se fosse cmg teria xD Quando vir o filme eu publico uma opinião sobre ele ^^

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