segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Patience

Não sou dada a socialidades. Não gosto muito de pessoas, nem sei muito bem lidar com elas. Não sei se o problema é meu, se do facto de ter sido criada, filha única, dentro de casa, longe de tudo e todos, e sem que houvesse vivalma que me impulsionasse a me relacionar com os demais. Era em casa que devia estar, e pronto. Relações sociais? Coisa desnecessária.

Agora que saí para o mundo, vivo a minha vida e relaciono-me com algumas pessoas (até porque a profissão obriga). Mas continuo sem saber muito bem como fazer isso.

De todo o modo, começo a achar que as outras pessoas também não estão muito interessadas em relações sociais ou qualquer coisa do género (nem sei que lhe chamar, mesmo). Cada um vive demasiado centrado na sua própria vida, no eu individual ao invés do eu social, cuja acções, de uma forma ou de outra, acabam por interferir em muitos outros eus. As pessoas são, inadvertidamente, egoístas (e não são só os filhos únicos).

E é este o ponto fulcral. As pessoas pedem ajuda mas, lá no fundo, não querem ser ajudadas. Há uma cultura do desespero, do deixar andar até não poder mais, dos radicalismos, do não querer saber que consequências as suas acções têm. Se alguém tem um problema, bem... não sei muito bem qual é o meu papel e o que é suposto dizer. Daí que tento sempre racionalizar e relativizar a situação, caso a caso. Mesmo que seja um problema demasiado próximo, o meu instinto diz-me, inconscientemente, que me tenho que distanciar e olhar o problema de fora. Arranjar soluções. Mas o verdadeiro problema não é esse: são as pessoas. Nenhuma solução é boa, nenhum remédio vale a pena, e se temos a triste ideia de tentar fazê-las perceber que a opção que tomaram  (ou a falta dela) só irá piorar a situação, sentem-se ofendidas. Se não estás por mim, estás contra mim. É só isso que querem ouvir. Nada de soluções, nada de racionalizações, nada de contradições. Só querem ouvir um ámen e pronto, siga para a frente, ou siga para lado nenhum que tentar resolver os problemas é coisa que não vale a pena.

Einstein dizia que havia apenas duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana. E quanto ao primeiro, ainda tinha as suas dúvidas.

Não sei porque ainda me preocupo. Sim, preocupo-me. E faço-o porque as pessoas envolvidas são-me próximas. Porque, no final, quem vai acabar por ver as acções dos demais interferir na sua vida, sou eu. Há coisas que não se escolhem. Há aqueles que têm na família um pilar, mas também há aqueles que só têm uma fonte interminável de problemas. Eu faço parte do segundo grupo. E a verdade, é que, às vezes, fico cansada. Há fardos que os filhos não pediram, mas que acabam por cair nos seus ombros. Eu, infelizmente, não tenho com quem os partilhar.

E é assim, novamente sozinha e sem saber como lidar com as pessoas, que me vejo. Vou ali dar de beber às couves e já venho. Entre a horta e as pessoas, escolho a horta. Dá menos trabalho e magoa menos. E tentar ter paciência (Patience - Guns'n'Roses).

5 comentários:

  1. Apesar do teu texto ser um bocado envolto em mistério eu acho que o consigo compreender. Eu não sou exactamente filha única mas se eu me puser aqui a tentar explicar a minha árvore genealógica fazia um testamento que a minha família é excentricamente pouco convencional. Mas pronto. Eu sei o que é essa sensação de olhar em volta e parecer que toda a gente cresceu numa vivenda com dois irmãos mais novos, 1 cão e 1 empregada e 2 pais num casamento feliz e maravilhoso e os feriados são passados com grandes aventuras em família e o Natal é um sonho cinematográfico. E depois existimos nós que nunca soubemos o que é viver nesse filme da Disney. E nós ainda nos vamos aguentando, mas depois as pessoas "normais" não percebem grande parte das nossas atitudes e passamos a vida a sentir a incompreensão. É um real m****.
    As coisas que mais me consolam são primeiro, saber que se tivesse nascido numa família da Barbie de certeza que ia ser uma pessoa muito mais oca e muito menos consciente da vida como sou. Segundo, tenho sempre a oportunidade de vir a construir a minha própria família como eu quiser. Com os meus filhos e com os meus amigos e sem convidar os parentes que nunca vi interesse nenhum em fazerem parte da minha vida. Espero que penses nisso também para ajudar a atravessar os momentos mais difíceis ;)

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  2. Todos os dias nós lidamos com egoísmo, tanto das pessoas que nos são indiferentes como das pessoas que nós mais queremos que fiquem bem, pessoas que gostamos e que nos são importantes. Antes também não era dado a socialidades, era filho meio-único...uma coisa esquisita... e acho que isso se deve a esse facto e ao facto de que a minha mãe não me deixava sair "debaixo da asa dela", mais numa forma de proteção do que egoísmo. Eu, não sei bem a razão [se bem que, o meu Ascendente em Capricórnio me justifica isso], sou bastante...como é que se diz...caridoso(?) - por exemplo, se me pedem para fazer alguma coisa eu faço, às vezes reclamando, mas faço, não tenho lata de não fazer. E talvez, graças a isso, não tenho problemas em pedir ajuda, mas conheço pessoas que têm...penso que em algumas coisas a minha mãe faz parte das pessoas que não gosta de pedir ajuda, talvez devido a toda a sua vida...mas pronto... As pessoas neste mundo gostam de ser tão independentes que às vezes confundem a estupidez com independência. Então, boa sorte com isso, se é que é sorte que precisas. =P Cheer Up, girl.

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  3. As pessoas não são inadvertidamente egoístas. As pessoas são egoístas e raramente o assumem, porque o que fica bem é ser prestável, mesmo que não se preste para nada.
    Olha, ainda este fim de semana tive um jantar em família e, às tantas, alguém se saiu com a conversa da família, que a família é tudo e bla bla bla. E eu a saber que a pessoa em questão, só procura a família quando precisa e que se tivesse seguido os conselhos de quem lhe matava a fome, talvez não tivesse feito tanta merda...
    Enfim, a família não se escolhe. Temos que viver (conviver é que não) com a que nos saiu na rifa. xD

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  4. Sou bem capaz de compreender-te, pois embora não seja filha única, também fui muito criada nessa cultura da "casa, casa, casa" e sei que isso moldou o que sou, o que não é uma coisa boa. Também não gosto muito de pessoas, acabei por habituar-me a fazer muitas coisas sozinha e contando apenas com a minha opinião. E também sinto, por vezes, que estou a sofrer com escolhas dos outros e que, mesmo sendo dos outros, estas me pesam nos ombros como não deveria acontecer. Não tenho solução para isso. Apenas tenho pena de que não seja de outra maneira, de que a vida não tenha proporcionado experiências diferentes que me tivessem levado a ser menos individualista e avessa às relações humanas.

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  5. Eu não sou filha única mas para mim não há nada como estar em casa no meu cantinho. Compreendo-te perfeitamente.

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