As eleições foram, precisamente, há três semanas atrás. Descansem, não vou perder tempo com politiquices. Mas como o assunto vai de mal a pior e até já cheira mal, e como até estive "por lá", vou-me virar para um registo mais ao meu estilo: a linda e misteriosa arte da palhaceira. Para além de cumprir o meu dever cívico de ir votar, independentemente do local onde pus a minha cruzinha, estive a trabalhar nas mesas. Sim, os 50 paus pesaram na escolha, apesar de não pagar o trabalho que temos. Não foi a primeira vez que fui e, como podem imaginar, para quem já anda nestas andanças há alguns anos, há sempre cenas que vale a pena relatar.
As votações na minha zona (agora já não se pode dizer "freguesia", porque é uma "união", blá blá blá) foi numa escola primária (não a que eu frequentei). A primeira coisa em que reparei, depois de chegar à sala onde estava a mesa que me tinha sido destacada, foi que esta estava forrada a posters com coisas para os miúdos. E o meu olhar parou, automaticamente, naquele que ensinava os substantivos e ao qual tirei uma foto extremamente tosca enquanto não começava a montar o estaminé.
Eu não sei quanto a vocês, mas talvez os mais velhos tenham, como eu, associado o poster acima às imagens dos livros da primária dos tempos da ditadura (eu tenho boa memória para imagens e papelada). Casa, trabalho, religião. Senti uns tremeliques na tripa. Claro que a canalha não entende estas mensagens subliminares, mas parece-me um pouco ridículo que, indirectamente, se lhes esteja a incutir que "gente" é aquela que tem "fé" e entra numa casa religiosa encimada por uma cruz. Mas eu sou um pouco conflituosa, por isso, pode ser só dos meus olhos.
Outra coisa que salta à vista, é a maneira como as pessoas se vestem. Sim, típico comentário de gaja. A maioria vai com qualquer coisa, como se se vestisse para um dia normal (bem vistas as coisas, os dias de eleições não são "super"), mas há sempre: 1) aqueles que aproveitam a corridinha do dia para fazer a sua cruzinha; 2) aqueles que se veste como se fosse para um jantar real. E são estes últimos que me fazem mais confusão. Não estou a falar do casal que apanhei que foi votar depois de um casamento (notava-se tão bem! Teve piada, confesso), mas daqueles que olham para nós como se a roupa que têm os defina como a última bolacha do pacote.
Mas a melhor de todas, ou pior, foi mesmo aqueles seres que pareciam nunca ter votado na vida (sem contar com a trintona muito simpática, com ar meio betinho, mas totalmente deslocada das ideias, cujo marido, igualmente simpático e meio betinho, desculpou a ignorância da sua senhora na coisa, porque ela nunca tinha ido, efectivamente, votar). Fiquei numa das últimas mesas, onde normalmente votam os mais novos que, ou nunca votaram porque nunca se deram a esse trabalho, ou porque nunca tiveram idade para o fazer, e os que se mudaram para a "zona" há pouco tempo. Aos primeiros, até dou meia desculpa, e somente "meia" porque, por um lado, tinham obrigação de ser ter informado antes, e por outro, os pais podiam ter mais cuidado em avisá-los, não é só dar-lhes dinheiro para sair à noite e dizer-lhes onde fazer a cruzinha. Mas o que me irritou mais foi aquele pessoal que já tem idade para saber "o que a casa gasta" e, mesmo assim, parece lorpa, ou tenta fazer quem está a trabalhar nas meses um lorpa.
Situação 1:
Presidente da mesa - Bom dia, tem o seu cartão?
Cidadão Y - O meu número de eleitor é XXXX
Presi - Sim, mas eu preciso de um documento de identificação, como o cartão de cidadão.
Cidadão Y - Mas é mesmo preciso?
Situação 2:
Presi - Bom dia, tem o seu cartão?
Cidadão H - Não. Eu da última vez votei aqui.
Presi - Pois, mas as listas vão mudando. Sabe o seu número?
Cidadão H - Não.
Presi - Então faça o favor de ir ali àquela salinha, que tem lá uma funcionária que lho vai dizer.
Situação 3:
Cidadão Q - Menina, o meu número de eleitor é este *mostra cartão/mensagem de telemóvel*. Onde é que voto?
Eu - Tem que ver nas listas que estão afixadas lá fora, que tem a correspondência entre os números de eleitor e as mesas.
Situação 4:
Presi - Bom dia, tem o seu cartão?
Cidadão J - O meu nome é XXXXXX
Preso - Sim, mas preciso do seu número de eleitor, e do seu cartão de cidadão, já agora.
Cidadão J - Não consegue encontrar isso com o meu nome?
As situações acima descritas são verídicas. Parece impossível, mas são. De todo o modo, quando o tasco fechou, rapidamente se contou, organizou e lacrou tudo o que era votos e papelada nos seus devidos lugares. Tivemos mais votos do que o normal e esperado, mas ainda bem que assim foi. E a equipa era boa, por isso, não houve problemas. Agora, vamos lá ver no que isto dá... Acho que o Calvin é que devia ser Presi desta "zona". Fazia mais sentido, o "piqueno". Ou o Batman.
Aquela parte dos posters foi muito bem observada.
ResponderEliminarMudam-se os tempos, ficam as mensagens (e ressuscitam os mensageiros). :)
Também estive nas mesas! E prefiro não repetir a dose :x e apanhei situações tal e qual. Fiquei por vezes escandalizada...
ResponderEliminarA mim o que me choca é o cartaz tentar ensinar os "substantivos", coisa que desapareceu da gramática há uns anos: agora chamam-se nomes. Isso é que é escandaloso!
ResponderEliminarAliás, agora que olho com mais atenção, até as subclasses estão erradas. Já não é nada assim. Se isso está afixado numa sala em uso no primeiro ciclo, é uma situação grave porque leva ao erro.
ResponderEliminarOh, santa ignorância xD Parece que custa muito ter os cartões à mão --'
ResponderEliminarE aquilo do poster está muito bem visto :P Se fosse eu a olhar para ele, provavelmente isso nem me tinha passado pela cabeça x)
R: Não fazia ideia que já ias tão avançada na leitura :P Fiquei contente por saber que gostaste daquela parte ^^
Ain, não tenho idade para votar mas tenho curiosidade para fazer tal coisa. Tenho curiosidade de saber o que se passa lá nos locais onde se vota, mas pronto. Daqui a um ano, ou lá quando houver eleições, já posso votar. =P
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