sábado, 8 de agosto de 2015

Mudanças

Vim viver para Braga há sete anos. Na altura era uma "recém-adulta" acabadinha de sair do forno, com 18 anos, caloira e as únicas ocupações domésticas que sabia fazer eram comer e dormir. Não sabia cozinhar, porque em casa havia o seguinte mote: se "a menina" mexer no lume, queima-se; se "a menina" mexer numa faca, corta-se; se "a menina" se empoleirar num banco para resgatar uma coisa, cai e esparrama-se toda no chão. Ou seja, até ali existi na minha passividade de clausura em redoma de vidro. Não conhecia nada, porque nunca tinha tido "autorização" para sair da minha bolha. Se vissem "a parvinha" que eu era, a olhar para um admirável mundo novo ali, na eminência de acontecer... morreria de vergonha.

Fui então "depositada" por cá, num T2 com mais três raparigas que conheci na fila para a matrícula, onde dividia-mos os quartos. Éramos todas caloiras, e desejosas de conhecer o mundo. Os meus pais vieram comigo conhecer "os cantos à casa", e foi aí que a sua intervenção ficou. Mesmo sabendo que eu desconhecia essa arte feiticeira de cozinhar, tinha sempre duas opções: aprender sozinha ou esperar que alguém cozinhasse por mim, já que ficou bem esclarecido que não iam haver "aulas" da dita arte feiticeira em casa, e muito menos tupperwares de fim-de-semana congelados. Esse ano passou e, como seria de esperar, duas das minhas colegas foram viver com outras pessoas dos seus cursos e uma decidiu que lhe compensava ir e vir todos os dias visto que não morava muito longe. Sobrei eu.

Então tive que procurar uma nova casa. Tive um acidente de percurso (nunca mais duvidei do meu instinto depois disso, e comecei a confiar piamente no que ele "me diz") e fui para uma nova casa. Aprendi a cozinhar, a mexer em máquinas de lavar e como mudar botijas de gás. Fiquei nesse apartamento durante três anos, até aparecerem duas bodalhocas imundas e sem qualquer tipo de educação "criaturas" (ver ou relembrar situação da Entidade com menstruação aqui; saber ou relembrar quem é a Entidade aqui.). Mudei-me então para a casa onde estou agora, partilhei-a com uma louca durante quatro meses e com uma rapariga super fixolas durante dois anos. Este último que passou estive sozinha na casa, muito embora outras pessoas a tivessem visitado, porque, essencialmente, é um "buraco": entre coisas estragadas, inexistentes ou a cair, sobra muito mas muito pouco. No entanto, foi o mais barato que encontrei e... dinheiro teve que ser.

Apesar das parcas condições da habitação, a coisa foi-se passando, até ao momento em que o frigorífico deixou de funcionar. Alertei a senhoria, e a resposta que tive foi: vou-te aumentar a renda e o frigorífico logo se vê, que não tenho dinheiro nem disponibilidade agora, e só contigo na casa, não me sobra nada. Devo lembrar os leitores incautos que, se apenas cá resido eu, é por inércia da dona, que não faz obras e tem tudo bolorento, incluindo as paredes dos quartos livres que, por não estarem a ser "usados", têm humidade suficiente para uma ou várias culturas de bicharada. Para não falar nas portas dos armários que me caem em cima dos pés, dos electrodomésticos que, ou não existem ou não funcionam, na instalação eléctrica da casa de banho que não funcionou durante dois anos porque a ligação tinha sido feita com fio de telefone (não sei como não ardeu a casa toda connosco lá dentro), e por aí fora...

Agora tenho que mudar. É uma imposição da senhoria, à qual paguei, durante três anos, todas as minhas obrigações, sem falta. Há um mês que procuro novo poiso, mas o arrendamento subiu muito nos últimos sete anos. Não condeno quem investe num apartamento com tudo do melhor, e depois queira o devido retorno, mas tendo em conta o sovina que tenho em casa e que infelizmente ainda me paga as contas, tudo é caro. Tenho até ao final de Agosto para mudar e não tenho nenhuma perspectiva. Os quartos mais baratos são "em cima" dos bairros problemáticos, e eu não tenho intenção de ficar com as tripas de fora ou coisa do género. Há ainda a possibilidade de ir para um pequeno apartamento, mas... dinheiro. Gostava de mudar com o Moço, mas é quase impossível encontrar um apartamento em que aceitem um casal num quarto e, uma vez que ele ainda não conseguiu emprego, está ainda mais difícil. Se bem que tendo em conta que alguns T1's não são muito mais caro do que um quarto singelo, numa casa cheia de gente, com a qual me posso vir a dar mal, talvez compensasse, pelo menos em descanso. Bem sei que nem todos os estudantes são porcos bêbedos, eu própria não o era, mas é um risco demasiado grande e eu não me posso dar ao luxo de acordar às três da manhã só porque partilho casa com gente sem respeito. Mas... dinheiro. Arranjar um part-time é-me extremamente difícil visto que estagio a semana inteira, sem possibilidade de remuneração porque a minha ordem profissional não deixa, e assim permanecerei por, provavelmente, mais um ano e qualquer coisa, e aos fins-de-semana seria complicado porque tenho que ir a casa de vez em quando (a bolha ainda existe, aparentemente... esta sou eu, com 25 anos).


Ainda assim, comecei a "empacotar as coisas". E já parece um dos 12 trabalhos de Hércules. Já me tinha esquecido que mudar de casa era tão mau. Parece que aparecem coisas vindas de todos os sítios e hipotéticos buracos. Só aí uma pessoa vê a tralha que tem. Ao fim de sete anos, é espectável que já se tenha uma "casa montada" e não se viva com o meramente essencial à sobrevivência. Por este andar, as minhas férias vão ser procurar casa até à última e ensacar as minhas coisas. Nada de passeios, conhecer sítios novos ou descansar.

Depois de este post demasiado longo (nem sei como têm paciência para ler isto tudo...!), percebo como é fácil reduzir/desconstruir uma pessoa num punhado de sacos e caixas de cartão, mas que é difícil voltar a montá-la como uma pessoa inteira. Que há sempre alguma coisa que acrescentámos "à tralha", porque há sempre alguém que esteve naquele local antes de nós, e deixou alguma coisa esquecida para trás. E que há sempre alguma coisa que deixamos esquecida para trás quando "andamos em frente" que, muito provavelmente, irá acrescer "à tralha" de outro alguém.

10 comentários:

  1. Tens sempre de esperar pelo melhor. E afinal, não estás sozinha e há sempre o rechonchudo que te apoia :)

    ResponderEliminar
  2. Ainda vivo com os meus pais, na tal "bolha" que referiste. Isto de não conseguir arranjar emprego tem que se lhe diga. Quanto à tua situação... imagino o pânico! Já não basta não poderes arranjar um part-time como ainda tens que encontrar algo em conta até ao final do mês. Espero mesmo que consigas dar a volta por cima :)

    Ricardo, The Ghostly Walker.

    ResponderEliminar
  3. Estou há 5 anos em Lisboa e estive em 5 casas diferentes. Uma por ano. Só para o próximo ano é que finalmente vou manter-me no mesmo sítio (por razões que seria demasiado complicado explicar). Penso que na capital a oferta deva ser maior do que em Braga, pois aqui o que me motivou a mudar de quarto em cada ano foi o lema "quartos há muitos, se não estou bem o melhor é mudar". E comigo passou-se tudo - ou era a casa que não prestava, ou eram os colegas de casa que não prestavam, ou era a senhoria que não prestava, etc. Mas aqui o arrendamento também é muito mais caro, mesmo MUITO mais caro - tenho quase a certeza que o vais pagar aí por um t1 espaço aí é o mesmo que eu paguei aqui por quartos pequeninos apertadinhos.
    Da minha experiência, posso tentar dar-te algumas sugestões. Não sei se a tua situação de estágio é curricular - se for, já pensaste em candidatar-te a uma residência? costumam ser bastante mais baratas e ter condições relativamente boas.
    Outras opções mais baratas são tentar procurar casa mais na periferia - se tiveres passe de transportes, por norma compensa mais demorar mais algum tempo de transportes porque as casas na periferia são mais em conta.
    Se mesmo assim essas opções não te agradarem ou não forem fazíveis, sugiro também que procures grupos no facebook sobre arrendamento em Braga, pois hoje em dia já há bastantes grupos desses género onde se encontram mais opções do que nos típicos imovirtual e olx.

    ResponderEliminar
  4. Já perguntei ao meu amigo aquilo que me pediste. Estou à espera que ele me diga algo, e vou mandar-lhe agora uma mensagem para ver se ele me diz algo. Eu estou numa situação um nadinha semelhante à tua. O meu problema é que vou ter de ver de uma casa nova pela primeira vez ^^' E estou, decididamente, à nora. Espero que a minha mãe saiba como isso se processa tudo (procurar casa, etc.), o que acho que sabe.

    R: Eh...Em relação ao coiso do tempo...acho que vou optar pelo que me apetece mais fazer no momento. Em relação aos animes, também tinha alguns para ver, mas com o tempo fui perdendo o interesse em vê-los. E agora no fim das férias é que me está a apetecer vê-los outra vez...que sorte...

    ResponderEliminar
  5. Eu alugava-te um quartinho mas ir daqui a Braga todos os dias, tinhas que te levantar muito cedo.
    Como é que este cabrões querem que uma pessoa tenha incentivo para trabalhar, se até para respirar está difícil?
    Boa sorte na pesquisa e antes de deixares a casa, não te esqueças de mijar em todos os cantos. eheheheh

    ResponderEliminar
  6. Boa sorte! Comprar/alugar uma casa decente, hoje em dia, não é para todos. ;)

    ResponderEliminar
  7. Eu, enquanto estudante, fiquei sempre na mesma casa. Tive sorte de encontrar um bom apartamento, com uma colega de casa que não me dava chatices nenhumas. Depois, quando ela saiu, lá vieram duas badalhocas, com as quais já me estava a passar. Nunca mudei de casa, mas mais por preguiça do que outra coisa qualquer xD Porque eu até gostava muito de viver ali, pois a zona era óptima e o apartamento em si também. Só as gajas que viviam comigo é que estragavam tudo...
    Quando me vim embora é que me apercebi de toda a tralha que tinha xD Empacotar as coisas é realmente chato...e ainda bem que não tive que o fazer mais vezes xD Nem sei como faria para levar a minha tralha toda para outra casa, caso me tivesse mudado xD
    Boa sorte na procura! Espero que encontres um bom sítio ^^

    ResponderEliminar
  8. Podes sempre tentar procurar um T0 a um preço acessível, assim um espacinho porreiro para ti e para o "Moço". Sempre será mais barato que um T1 e existem t0 em braga ao preço quase de um quarto, é uma questão de procurar, estipulares um preço máximo e tentares negociar. O preço ainda baixa mais se se tratar de um apartamento sem mobília/mobilado parcialmente. Por exemplo se tiveres mobília antiga ou conseguires alguém que te arranje é uma opção.Pela beira da Universidade é sempre onde tem preços mais baixos, creio, ou então pela beira do bragaparque (por trás) já vi uns preços simpáticos.
    Sei que nos casos em que se arrenda casa própria há a possibilidade de pedir apoios ao estado (porta 65 jovem). Não digo para agora, porque creio que um dos membros do casal tem que estar empregado mas é uma iniciativa interessante para teres em mente quando tiveres um pouco mais estável :)
    Eu sei bem o que é estar na tua situação, querer ter o nosso espaço mas não conseguir porque não há dinheiro. Eu mudei em Dezembro para um T0 com o meu namorado e sei bem o que sofri até chegar a esse momento. Já estava farta de aturar as colegas de casa, de ter de apanhar com cada pessoa, de viver quase enredos de novela, meu deus. Chega a um ponto que só apetece atirar tudo pelo ar :) Mas vá força aí, a sério, de certeza que vais conseguir arranjar um sítio porreiro, quer seja um quarto ou um apartamento xD Quanto à ordem pensa assim: já faltou mais, está quase a acabar! E quanto ao Moço de certeza que ele não tarda nada consegue arranjar um emprego. Há que pensar de modo positivo, senão uma pessoa até fica maluca.
    Força e desculpa o testamento :D

    ResponderEliminar

Sê bem vindo!! Achaste este post tão maravilhoso como a sua autora? Ou tão alucinado da mona? Sente-te à vontade para deixar o teu contributo. Responderei assim que possível. Obrigada pela visita e volta sempre =)