terça-feira, 17 de março de 2015

Porque desmaiar com estilo é uma arte

Sou pessoa de passar a vida a tropeçar nos paralelos da rua, nos móveis, nos sapatos perdidos no meio do corredor e até nos próprios pés. Escorrego no chão de madeira, nas escadas e na banheira. Mas felizmente, é muito raro cair (a minha carteira agradece, que partir dentes e óculos está fora do Orçamento de Estado da Pseudo-República da Minha Casa). Cair é coisa corriqueira, acto que qualquer moçoila executa com relativa frequência. Desmaiar é coisa de diva. Só desmaiei uma vez na vida, mas acredito que tenha valido por dez.


Véspera de passagem de ano, 2012

Depois de jantar e de preparar a mala para, no dia seguinte, voltar a Braga, para ir trabalhar e passar o Reveillón com o Moço, estive a fazer tempo ao computador até chegar a hora do alegre soninho. De repente, assim completamente do nada, senti uma vontade absurda de vomitar (e eu que nem sou "dessas coisas"). Nem tive tempo de chegar à casinha e aqui terminam as minhas descrições extremamente gráficas. Tentei comer qualquer coisa para compensar o que "lá fora", mas o meu corpo repelia, por todos os lados (não me façam explicar), tudo o que ingeria. E nisto a minha mãe solta o alarme: "Tens que ir ao hospital levar soro. Isso deve ser uma gastroenterite". Naquele instante, acho que fiquei curada, mas infelizmente esse estado de plenitude não durou muito tempo. Enquanto imagens de agulhas a virem na minha direcção me deixavam mais desidratada do que já estava, ouvia o meu pai rugir que eu era uma gulosa e que tinha sido a minha alarvice de comer tudo o que vira no natal me tinha deixado naquele estado, completando que no dia seguinte não ia a lado nenhum, que quem mandava era ele e que o trabalho pendente e a passagem de ano com o Moço "já eram", sem possibilidade de negociação. Eu com uma gastroenterite e ele preocupado com o "seu poder". Cada um com as suas prioridades (viram a referência lá em cima sobre a pseudo-républica?!).

Chegados ao hospital, eu e a minha mãe fomos ao check in, enquanto o meu pai foi estacionar o carro. Enquanto ela falava com a senhora administrativa, carregando as carteiras das duas, eu limitei-me a encostar o corpo ao balcão e a cabeça ao vidro que separa os intervenientes. De repente, deixei de ver, graças à fraqueza que a gastroenterite tão prontamente me proporcionou. O meu pensamento seguinte foi: vou estatelar-me no chão.

Cair em slow motion faz toda a diferença. Mesmo antes de desmaiar, ainda disse à minha mãe "acho que vou cair...", enquanto, contou-me ela depois, já estava eminentemente em cima dela. A última coisa que me lembro é da administrativa a bater com um porta-chaves no vidro, e eu, com as minhas funções cerebrais (de qualidade duvidosa) ainda em funcionamento, pensei: "Eu aqui quase a desfalecer e a burra a bater-me no vidro?! Deve pensar que assim 'acordo' mais depressa...". Posteriormente, vim a saber, também pela minha mãe, que o repique no vidro era para os dois bombeiros que estavam ao meu lado e que não repararam em nada, já ela estava como cristo, de braços abertos, com as carteiras das duas e a filha "apagada" estilo saco de batatas em cima. Foi preciso o porteiro, a metros de distância, vir a correr para ajudá-la.

Entretanto comecei a ouvir sons e, quase ao mesmo tempo, a sentir as orelhas quentes. Foi a primeira coisa que senti de forma física. Nesse instante, lembrei-me de uma amiga dizer que esses são os primeiros "sintomas" pós-desmaio. A minha função cerebral é um espanto. Depois pensei: daqui a nada já consigo ver, enquanto constatava que me encontrava em movimento e com a boca seca (quando o porteiro me colocou na cadeira de rodas de emergência que têm na entrada, devo ter aberto a boca e ninguém teve o cuidado de ma fechar... --'). O que é que fiz quando "voltei totalmente a mim" já no corredor das urgências? Comecei-me a rir, tentando imaginar as figuras tristes que tinha feito. Estava quase curada, "portantos", mas não me safei do soro. A maneira vergonhosa como me portei frente à enfermeira de serviço não é para aqui chamada, mas tenho que dizer que a senhora foi muito paciente comigo (já deve estar habituada aos "clientes" com pânico de agulhas, suponho). Enquanto isto, o meu pai permanecia na sala de espera, onde reapareci com fénix albina renascida das cinzas, com soro no bucho e a receita algures perdida na carteira tamanho XL da minha mãe. A sua primeira pergunta foi, muito carinhosamente: "Pagaste as taxas moderadoras?!" (A resposta negativa, porque nessa altura ele não tinha deixado passar o prazo de renovação da isenção, acalmou-lhe o coração sobressaltado. Se ele tivesse assistido ao show que dei gratuitamente, teria cobrado bilhetes para compensar o valor da gasolina gasta.)

Meados de Março de 2015

Não voltei a repetir a proeza.

8 comentários:

  1. Adorei a descrição do desmaio, agora sei mais ou menos o que é desmaiar, porque se alguma vez desmaiei na vida não me lembro. Porém, sei o que é esse pânico a agulhas...aliás, eu tenho fobia a tudo o que tenha agulha(isso inclui abelhas, principalmente elas!) Adorei também as imagens dos gatos. :)

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  2. O desmaio pode ter sido curto, mas a história está muito bem "dramatizada". ahahah
    Ainda na semana passada me esfregaram na cara que quando a minha filha ligou a dizer que tinha batido com o carro, que tinha comprado havia menos de um mês, a minha resposta foi:
    Pronto, já espatifaste a porcaria do carro.
    É evidente que se ela estava a telefonar para avisar que ia chegar mais tarde (e sem um retrovisor), não tinha ficado ferida. As gajas é que fazem logo um filme de terror, do qual, ao fim de 9 anos, nas discussões ainda me atiram com os fantasmas à tromba. ahahahah

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  3. Bem andas-te a roubar as coisas boas do Natal ao teu pai por isso é que ele se chateou looool!

    Olha eu cá nunca tive uma dessas e ainda bem... Mas já tive assim um desmaio desse género em que se fica meio consciente e não gostei nada...


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  4. Agora ja sei que se alguma vez acontecer vou ter orelhas quentes :P eheheh...

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  5. Um desmaio não é uma sensação nada agradável.

    Isabel Sá
    https://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  6. Um desmaio não é uma sensação nada agradável.

    Isabel Sá
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  7. Também já desmaiei uma vez e devo ter também feito figuras tristes e com a boca toda aberta xD

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